(...) pois eis que ele está orando _ Atos 9:11
O momento de apreensão toma meu coração.
Palavras dispersas e sentimentos vazios parecem derramar
o meu coração.
Tenho acompanhado de perto o quadro clínico do meu avô.
Deus permitiu com que eu tivesse a honra de ter um particular com ele todos
esses dias.
Um hiato ensurdecedor tem tomado conta de minha vida, mas
a oportunidade de ficar ali, segurando em suas mãos, acariciando seus cabelos,
conversando sobre Cristo, é de valor imensurável à mim.
Noutro dia, passei a tarde toda com ele. Conversamos de
tudo um pouco, mas o ponto alto do turno foi concernente aos cultos na
igrejinha velha.
Em determinado momento, meu avô me chamou pelo nome, quase
que sussurrando, pediu para que eu me aproximasse e ficasse bem perto dele.
Pensei que fosse pedir água, ou algum alimento, pedir
para que abrisse um pouco mais a janela, ou algo do tipo, mas não.
Sussurrando ele disse: o Vô quer orar.
- Oi, vô? Não entendi. Perguntei.
- Eu quero fazer uma oração. Enfatizou.
Naquele instante pensei que fosse perdê-lo.
Abracei-o com toda minha força e comecei a orar.
Pedi para que Deus me desse a honra de seguir o mesmo
caminho que o dele.
Pedi que me sustentasse assim como o sustentou.
Que me segurasse pelas mãos, da mesma forma como carregou
meu avô durante todos esses anos.
Que me desse da mesma intimidade que concedeu ao meu avô.
Eu pedi em meio a um emaranhado de lágrimas, que Deus
fosse comigo, assim como foi e continua sendo com ele.
Até que o silêncio e o vazio tomaram conta de nós naquele quarto frio.
Chorei. Chorei. Chorei. Chorei. Por minutos fiquei assim,
chorando.
E ele quieto.
Abri os olhos e parei para observa-lo.
Ele estava em silêncio. Estático.
O desespero tomou conta do meu coração.
Comecei sacudi-lo,
comecei chama-lo.
Uma, duas, três vezes, sem que ele esboçasse nenhuma
reação.
Gritei. Gritei alto ao ponto de acordar os pacientes do
quarto ao lado.
A enfermeira foi até a porta ver o que estava acontecendo
e sem saber o que fazer, ficou ali parada.
E então, ele me respondeu: Oi, meu filho.
- Vô, porque não me respondeu? Não faz assim comigo não.
Demorou a responder, até que disse:
- Mas eu estava orando.
O senhor José Maria Costa estava orando.
Ele estava
orando por mim.
Aprendi que as orações são observadas
instantaneamente por Deus, trazendo descanso à alma aflita e triste que ora.
Orar é expressar o seu lamento, seja através
de suspiros ou lágrimas.
Deus não somente ouve oração, mas tem prazer em
respondê-la.
Por que Ele ... Ele está orando.
Enquanto escrevo: Ele está orando.
Enquanto você lê: Ele está orando.
Enquanto Ele ora eu faço o que?
- Vô, permita-me ajuda-lo em oração?
“Estou tentando ser bem
honesto, 'tô' dizendo tudo o que eu penso. Tão sabendo que eu te peço Deus.
Ouça minha oração, que se fez cantiga, canção pra acordar. Se Deus aceitar
cantiga, minha oração, Deus, não perderá jamais.” (Palavrantiga,
Sagrado)