quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Nada me dói mais do que novembro - parte III


"O problema da saudade é que ela não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro".

Tributo. 

"De onde vem, pra onde vai? Me diz qual é o seu caminho? Enxugue o seu rosto e ajeite o chapéu, me fale um pouco de você, fique um pouquinho mais comigo. Ah meu amigo, ah meu amigo, ah meu amigo, meu velho amigo.

Divide comigo o teu cansaço, vem repousar no meu abraço, me fale mais sobre você, me ensine a trilhar seus passos, me diz meu velho como eu faço pra ser metade de você.


Ah, se eu soubesse do seu pranto, se eu conhecesse o seu canto e a sua comunhão com Deus, então entenderia esse jeitinho seu, seria um até breve esse seu adeus, eu vou na mesma estrada, essa estrada que você fez, até rever você meu velho outra vez". (Enéas Costa)





Continua...

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Nada me dói mais do que novembro - parte II

"O problema da saudade é que ela não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro".

A música.

Dizem por aí que a música tem o poder de descrever momentos e sentimentos, é um dito que eu não nego a veracidade. Pela inspiração do compositor muitas e muitas vidas passam a viver conexas ao verso, ponte e refrão.

A música sempre pautou meu relacionamento com meu avô. Quando menino gostava de ouvi-lo assoviar canções do hinário, ou cantarolar os sucessos de Oséias de Paula, Álvaro Tito, Cícero Nogueira e Luiz de Carvalho. Depois do jantar, nosso costume era colocar a cadeira na direção da ponte, levantar os pés e apoiá-los na mureta e então cantar, ou melhor, tentar cantar os clássicos do Cantor Cristão e da Harpa Cristã.

Era incrível quando isso acontecia. A casa que, sempre ficava lotada, se enchia de esplendor quando começávamos cantar. Era algo contagiante a ponto de que quem estava ocupado lavando a louça do jantar parava o que estava fazendo e vinha colocar uma terceira voz ao até então, nosso dueto.

“Divino companheiro no caminho, sua presença sinto logo ao transitar. Já dissipaste toda sombra, já tenho luz, a luz bendita do amor. Fica Senhor! Já se faz tarde, tens meu coração para pousar, faz em mim morada permanente, fica Senhor, fica Senhor! Meu salvador!”

Quantas e quantas noites não repetimos esse costume, acompanhados de uma garrafa de café. Bons tempos que enchem meu coração de felicidade e meu rosto sinaliza com um sorriso. “Ah, que saudade”.

Nos meses em que meu avô esteve no hospital, meses que antecederam o dia 13 de novembro, eu o acompanhei em diversas oportunidades. Ele sempre alternava um gemido com um Glória a Deus e um Aleluia. Essas frases nunca deixaram seu vocabulário, ainda que em meio a dor, sempre, sempre, sempre ouvia-o dizer: “Jesus é maravilhoso, glórias a Deus, Aleluia Senhor”. A voz cansada, fraca e opaca nunca deixou de glorificar aquele que sempre foi o seu Senhor.

Nesses turnos em que o acompanhei no hospital, ele sempre pedia para que eu cantasse algumas daquelas canções. Os pacientes do quarto não entendiam como ele conseguia cantar Ao chegar bem mais perto de Deus de forma tão doce, mesmo não suportando tanta dor. Para eles, algo sobrenatural acontecia no quarto. Já para o meu avô, segundo ele mesmo relatou aos outros familiares, todas as vezes que um louvor era cantado ali, naquele leito, ele não sentia dor, pois um anjo vinha visitá-lo.




"Senhor Jesus, se o Senhor voltar nesta noite, tenha de misericórdia dos Santos ao redor da Terra", José Maria Costa. 


Continua...



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nada me dói mais do que novembro - parte I


"O problema da saudade é que ela não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro". 

O relógio já marcava 6h20 da manhã quando o celular tocou ao meu lado na cama. Logo pensei que estivesse programado o despertador errado e tudo não se passava de um engano, entretanto, o identificador de chamadas informava que a ligação vinha de Pereira Barreto. Com um olho aberto e outro não, resolvi atender. Era meu tio Levi que com calma me trouxera a notícia que eu não esperava. “Bom dia Felipe, paz do Senhor, levanta aí e vem pra cá, o vô foi descansar no Senhor”. Pulei da cama, perguntei algumas vezes até que a ficha caísse. Não conseguia acreditar que perdera aquele que era meu referencial.

Sentei-me na cama, abaixei a cabeça e comecei chorar. Esse tipo de notícia deve ser digerida aos poucos, com calma, para que o nó na garganta não sufoque o coração. Por minutos fiquei cabisbaixo chorando e tentando entender aquilo tudo. Tomei forças e avisei meus pais e irmãos.

Voltei para meu quarto e sem saber mais o que era lágrima ou gemido, enfiei meu rosto no travesseiro. Queria poder fazer alguma coisa, queria tentar algo que revertesse, mas não conseguia fazer nada além de chorar.

Meu pai, o filho mais novo, o filho da velhice precisava mais das minhas forças do que eu da dele. Fui até ele e o abracei por minutos. O silêncio só era rompido pelo som das lágrimas que caiam e molhavam nossos ombros.

Me preparei para a ida ao funeral, eram 60 quilômetros. Um caminho que eu já conhecia de cor, desde minha tenra idade me dirigia à casa do meu avô de semana em semana, mas a espera dessa vez era diferente, era mais escura, vazia e bem mais fria.

No caminho a trilha sonora dos meus encontros com meu avô tentava me confortar. “Deus, onde estás? Te procuro, te procuraria na porta desta rua. Deus, onde estás? Olha o que eu vejo agora: o menino dançou sem roupa, o menino botou na boca um doce com gosto de fel. Deus, onde estás? A igreja arrancou o sino, o homem esqueceu o menino, fez castelo de outro e prata e perdeu a vida. Ah, acende toda luz iluminando a Terra que convive com a dor, sem esperança. Vai onde há a dor e cura! Vai onde não há amor e ama! Vai onde há a dor e alegra! Vai onde não há amor e transforma! Teu toque forte muda toda a sorte de quem te encontra”.

Inúmeras lembranças, vontade de rebobinar a história para dar nele meu apertado abraço.

Chegando até lá meu coração apertado quase saltou pela boca. Minha avó estava rodeada de filhos, netos e bisnetos, todos ali. Todos reunidos outra vez, mas o dono da casa não estava. Eu esperava que ele aparecesse e que colocasse fim a toda aquela angústia, colocasse fim a todo aquele emaranhado de lágrimas.

A notícia de que poderíamos nos despedir dele chegou e como um louco parti em direção aonde estava seu frágil corpo que foi vencido do pelas dores. Meu coração aflito, apertava a cada passo que eu dava em direção àquela fria sala.

Lá estava ele, deitado, com um terno escuro e com um semblante sereno. Estava mais jovem, estava mais bonito. Pouco lembrava aquele que sofreu em um leito de hospital durante meses. Estava com um sorriso estampado no rosto, seu rosto parecia com o de alguém que estava vendo algo lindo, algo de imensurável valor e beleza.

Segurei suas mãos e me acalmei. O Espírito de Deus enviou paz ao meu coração. Algo que me fizera limpar as lágrimas dos olhos e que me fez entender que o meu avô soube combater o bom combate e ao final de toda a carreira, guardar a fé.

Aprendi que para ele a morte era só o início de uma nova vida, agora, ao lado de Cristo.



Continua...


 

sábado, 23 de agosto de 2014

Zé, terça-feira foi dezenove.

Terça-feira foi dezenove de agosto, o primeiro sem você. E o que restou foi só saudade. Qual o contrário da saudade? Se fosse a presença, então saudade seria só ausência. Mas saudade é mais que ausência: é também esperança. Por isso a saudade não olha apenas para trás. Ela nos guia para o futuro que nós esperamos. Saudade é a expectativa da alma.



José Maria Costa completaria mais um ano de vida no dia 19 de agosto

sexta-feira, 14 de março de 2014

Saudade Zé

Ontem a tristeza e a saudade comemoraram os meus primeiros cento e vinte dias sem você.
Não tem sido fácil digerir essa história de te perder não Zé.
Vou escrever aqui tudo o que eu gostaria que você ouvisse ou somente lesse. Perdoe as rasuras, as ranhuras no papel (ainda que digital), perdoe as falhas, a incongruência e o fato de que eu não possuo o dom das palavras.  
Logo de manhã recebi a informação que teria que buscar a sua Maria (minha avó) no aeroporto. Poxa, logo no dia treze. Passei o dia inteiro remoendo as lembranças, pensando em muita coisa que você me ensinou Zé.  
Quanta saudade.
Saudade da sua raspada de garganta que repreendia uma traquinagem minha.
Saudade de buscar leite com bolacha pra você.
Saudade de te ouvir me chamar de “Kadete” canela fina.
Saudade de atender seus pedidos: “Venha, deixa eu ver esse seu cabelo enroladinho”.
Saudade de ouvir você cantarolar as canções do hinário.
Saudade de quando você me levava no alpendre da área, apontava para o rio e me mostrava que atrás da ponte havia um lugar iluminado (Usina Hidroelétrica Três Irmãos).
Saudade de quando eu era menino e passa férias em sua casa. Aquele quintal de terra era o meu mundo.
Saudade de quando você buscava ervas para a vó fazer o chá matinal e enquanto isso eu jogava grãos às galinhas.
Ô Zé.
Saudade de ficar te respondendo de quinze em quinze minutos qual é o nome do meu pai, que eu sou da Vila Áurea, dai você soltava uma gargalhada e dizia: “Felipe, Felipe, Felipe abre a porta pro Vô!”.
Saudade Zé.
Naquele aeroporto eu pensei tanta coisa, mais tanta coisa.
Esperando a Maria eu perguntava pro meu pai sobre você.
As vezes eu tinha a impressão de que você chegaria também. Que sei lá, vai que você viesse junto com a Maria.
Vocês eram inseparáveis. “A Maria vai? Se a Maria for eu vou. Ô Maria você vai com o menino?” E eu fiquei com a esperança que você viesse.
O avião pousou e as pessoas começaram a descer as escadas. Eram famílias, sabe? Pais, filhos, netos, avós se reencontrando ali na minha frente. Quanta emoção. Quanta saudade sendo exterminada, tendo fim.
Aquela porta de vidro se abria toda hora e cada pessoa que por essa porta passava um sorriso anunciava o fim da distancia.
 A Maria veio. Como o cabelo dela está branquinho Zé. Como ela está linda Zé.
Mas espera ai. Cadê você? Onde você está? Algo de errado deve estar acontecendo Zé, a Maria está sozinha.
 Você não veio mesmo.
 Eu tive a impressão de que ela esteve com você, mas você não quis vir com ela.
 De todos nós, durante todo esse tempo ela foi a que esteve mais perto de você.
Ela voou. Ela esteve pelos céus desse Brasil, cortou nuvens e correntes de ar.
Esteve perto de você que certamente está no céu, no seu devido lugar.


Te amo Vô. Saudade Zé.  


*crônica escrita em meio um emaranhado de lágrimas - quanta saudade meu Deus