"O problema da saudade é que ela
não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela
quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro".
O relógio já marcava 6h20 da
manhã quando o celular tocou ao meu lado na cama. Logo pensei que estivesse programado
o despertador errado e tudo não se passava de um engano, entretanto, o
identificador de chamadas informava que a ligação vinha de Pereira Barreto. Com
um olho aberto e outro não, resolvi atender. Era meu tio Levi que com calma me
trouxera a notícia que eu não esperava. “Bom dia Felipe, paz do Senhor, levanta
aí e vem pra cá, o vô foi descansar no Senhor”. Pulei da cama, perguntei
algumas vezes até que a ficha caísse. Não conseguia acreditar que perdera
aquele que era meu referencial.
Sentei-me na cama, abaixei a
cabeça e comecei chorar. Esse tipo de notícia deve ser digerida aos poucos, com
calma, para que o nó na garganta não sufoque o coração. Por minutos fiquei
cabisbaixo chorando e tentando entender aquilo tudo. Tomei forças e avisei meus
pais e irmãos.
Voltei para meu quarto e sem
saber mais o que era lágrima ou gemido, enfiei meu rosto no travesseiro. Queria
poder fazer alguma coisa, queria tentar algo que revertesse, mas não conseguia
fazer nada além de chorar.
Meu pai, o filho mais
novo, o filho da velhice precisava mais das minhas forças do que eu da dele.
Fui até ele e o abracei por minutos. O silêncio só era rompido pelo som das lágrimas que caiam e molhavam nossos ombros.
Me preparei para a ida ao
funeral, eram 60 quilômetros. Um caminho que eu já conhecia de cor, desde minha
tenra idade me dirigia à casa do meu avô de semana em semana, mas a espera
dessa vez era diferente, era mais escura, vazia e bem mais fria.
No caminho a trilha sonora dos
meus encontros com meu avô tentava me confortar. “Deus, onde estás? Te procuro, te procuraria na porta desta rua. Deus,
onde estás? Olha o que eu vejo agora: o menino dançou sem roupa, o menino botou
na boca um doce com gosto de fel. Deus, onde estás? A igreja arrancou o sino, o
homem esqueceu o menino, fez castelo de outro e prata e perdeu a vida. Ah,
acende toda luz iluminando a Terra que convive com a dor, sem esperança. Vai
onde há a dor e cura! Vai onde não há amor e ama! Vai onde há a dor e alegra!
Vai onde não há amor e transforma! Teu toque forte muda toda a sorte de quem te
encontra”.
Inúmeras
lembranças, vontade de rebobinar a história para dar nele meu apertado abraço.
Chegando até lá meu coração
apertado quase saltou pela boca. Minha avó estava rodeada de filhos, netos e
bisnetos, todos ali. Todos reunidos outra vez, mas o dono da casa não estava.
Eu esperava que ele aparecesse e que colocasse fim a toda aquela angústia,
colocasse fim a todo aquele emaranhado de lágrimas.
A notícia de que poderíamos nos
despedir dele chegou e como um louco parti em direção aonde estava seu frágil
corpo que foi vencido do pelas dores. Meu coração aflito, apertava a
cada passo que eu dava em direção àquela fria sala.
Lá estava ele, deitado, com um
terno escuro e com um semblante sereno. Estava mais jovem, estava mais bonito.
Pouco lembrava aquele que sofreu em um leito de hospital durante meses. Estava com um sorriso estampado
no rosto, seu rosto parecia com o de alguém que estava vendo algo lindo,
algo de imensurável valor e beleza.
Segurei suas mãos e me acalmei. O
Espírito de Deus enviou paz ao meu coração. Algo que me fizera limpar as
lágrimas dos olhos e que me fez entender que o meu avô soube combater o bom combate e ao final de toda a
carreira, guardar a fé.
Aprendi que para ele a morte era só
o início de uma nova vida, agora, ao lado de Cristo.
Continua...