quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Um menino nos nasceu ...

... um filho nos foi dado.”  (Isaías 9:6)


Como Jesus Cristo foi um menino em Sua natureza humana, nasceu gerado pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria. Nasceu como sendo verdadeiramente um menino, como qualquer outro homem que tenha vivido sobre a face da terra. Então, Ele é em Sua humanidade um menino nascido. Mas como Jesus Cristo é o Filho de Deus, não é nascido, mas dado, gerado por Seu Pai desde antes de todos os mundos, gerado, não criado, da mesma natureza que o Pai. A doutrina da eterna condição de Filho de Deus deve ser recebida como uma verdade indubitável da nossa santa religião. Porém, quanto a dar uma explicação para isso, nenhum homem deveria se aventurar a fazê-lo, pois permanece em meio às coisas profundas de Deus: na verdade é um desses solenes mistérios que os anjos não se atrevem examinar nem desejam esquadrinhar. Um mistério que não devemos tentar examinar a fundo, pois está totalmente fora do entendimento de qualquer ser finito. É o mesmo que um mosquito tentar beber o oceano, uma criatura finita tentar compreender o Deus Eterno. Um Deus que pudéssemos compreender não seria Deus. Se nós pudéssemos agarrá-Lo, não poderia ser infinito: se pudéssemos entendê-Lo, então, não seria divino. Portanto, eu digo que Jesus Cristo, como um Filho, não nos é nascido, mas dado. Ele é uma dádiva que nos é concedida, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que enviou Seu Filho Unigênito ao mundo.” Ele não nasceu neste mundo como Filho de Deus, mas foi enviado, ou foi dado, de tal forma que vocês podem perceber que a distinção é muito sugestiva e nos transmite verdade em grandes quantidades. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu.”




*  excerto do sermão: Uma pergunta de Natal (pregado na manhã de domingo,

25 de dezembro de 1859) por CH Spurgeon


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O primeiro clamor da cruz - III


Além disso, prestem atenção na oração que estamos considerando, que nosso Senhor permanece na força da fé no que diz respeito a sua condição de Filho. A extrema prova que lhe acometia naquele instante não podia impedir de se apegar firmemente a Sua condição de Filho. Sua oração começa assim: “Pai”. Não foi desprovido de significado que Ele nos ensinou a dizer quando orarmos: “Pai nosso”, pois nossa vitória na oração dependerá muito de nossa confiança em nosso relacionamento com Deus. Sob o peso enorme de grandes perdas e cruzes, somos inclinados a pensar que Deus não está tratando conosco como um pai para com seu filho, mas como um juiz severo com um criminoso condenado; mas o clamor de Cristo quando é conduzido a extrema dor que nós nunca experimentaremos, não mostra nenhuma hesitação no espírito de sua condição de Filho.

Quando o suor de sangue caiu abundantemente sobre o solo do Getsêmani, Seu clamor mais amargo começou assim: “Meu Pai”, pedindo que se fosse possível o Cálice passasse dEle; argumentava com o Pai como Seu Pai, tal como lhe chamou outra vez naquela escura e triste noite. Aqui Ele diz outra vez, nesta primeira frase das sete que pronunciou quando expirava: “Pai”. Oh! Que o Espírito que nos faz clamar: “Abba, Pai,” nunca deixe de operar em nós! Nós jamais seremos levados a escravidão espiritual por Sua operação: “Se és Filho de Deus”, se o tentador nos assedia, podemos triunfar como o fez Jesus faminto no deserto.

Que o Espírito que clama: “Abba, Pai!”, expulse todo medo incrédulo. Quando somos disciplinados, como temos de ser (porque que filho há a quem o pai não disciplina?), que possamos estar em amorosa sujeição ao Pai de nossos espíritos, e viver, sem nunca nos tornarmos cativos de um espírito de servidão, para duvidar do amor do nosso Pai misericordioso, ou duvidar de nossa adoção.

Mas notável porém, é o fato de que a oração de nosso Senhor a Seu Pai não pedia nada para si mesmo. É certo que na cruz Ele continuou orando por si mesmo, e que Sua palavra de lamento: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, mostra a personalidade de Sua oração; mas a primeira das sete grandiosas frases pronunciadas na cruz não tem sequer uma escassa referência indireta a Si mesmo. Ele disse: “Pai, perdoa-lhes.” A petição é inteiramente para os outros, e embora se ache uma alusão as atrocidades que lhe estavam impondo, no entanto, você notará que Ele não diz: “Eu os perdôo” – não podemos perder de vista aqui o fato de que em Sua mente o Mal que estava sendo feito era ao Pai, o insulto que estavam lançando sobre o Pai na Pessoa de Seu Filho; ou seja, não pensava em si mesmo nem nisso. O clamor: “Pai, perdoa-lhes” é completamente desinteressado. Ele mesmo é na oração como se não fosse, tão completa é sua aniquilação que perde de vista a Sua pessoa e Sua aflição.


* excerto do sermão: O primeiro clamor da cruz _ CH Spurgeon