Ontem a tristeza e a saudade comemoraram os meus primeiros cento
e vinte dias sem você.
Não tem sido fácil digerir essa história de te perder não
Zé.
Vou escrever aqui tudo o que eu gostaria que você ouvisse ou
somente lesse. Perdoe as rasuras, as ranhuras no papel (ainda que digital),
perdoe as falhas, a incongruência e o fato de que eu não possuo o dom das palavras.
Logo de manhã recebi a informação que teria que buscar a sua
Maria (minha avó) no aeroporto. Poxa, logo no dia treze. Passei o dia inteiro
remoendo as lembranças, pensando em muita coisa que você me ensinou Zé.
Quanta saudade.
Saudade da sua raspada de garganta que repreendia uma
traquinagem minha.
Saudade de buscar leite com bolacha pra você.
Saudade de te ouvir me chamar de “Kadete” canela fina.
Saudade de atender seus pedidos: “Venha, deixa eu ver esse
seu cabelo enroladinho”.
Saudade de ouvir você cantarolar as canções do hinário.
Saudade de quando você me levava no alpendre da área,
apontava para o rio e me mostrava que atrás da ponte havia um lugar iluminado
(Usina Hidroelétrica Três Irmãos).
Saudade de quando eu era menino e passa férias em sua casa.
Aquele quintal de terra era o meu mundo.
Saudade de quando você buscava ervas para a vó fazer o chá
matinal e enquanto isso eu jogava grãos às galinhas.
Ô Zé.
Saudade de ficar te respondendo de quinze em quinze minutos
qual é o nome do meu pai, que eu sou da Vila Áurea, dai você soltava uma
gargalhada e dizia: “Felipe, Felipe, Felipe abre a porta pro Vô!”.
Saudade Zé.
Naquele aeroporto eu pensei tanta coisa, mais tanta coisa.
Esperando a Maria eu perguntava pro meu pai sobre você.
As vezes eu tinha a impressão de que você chegaria também.
Que sei lá, vai que você viesse junto com a Maria.
Vocês eram inseparáveis. “A Maria vai? Se a Maria for eu
vou. Ô Maria você vai com o menino?” E eu fiquei com a esperança que você
viesse.
O avião pousou e as pessoas começaram a descer as escadas.
Eram famílias, sabe? Pais, filhos, netos, avós se reencontrando ali na minha
frente. Quanta emoção. Quanta saudade sendo exterminada, tendo fim.
Aquela porta de vidro se abria toda hora e cada pessoa que
por essa porta passava um sorriso anunciava o fim da distancia.
Mas espera ai. Cadê você? Onde você está? Algo de errado
deve estar acontecendo Zé, a Maria está sozinha.
Ela voou. Ela esteve pelos céus desse Brasil, cortou nuvens
e correntes de ar.
Esteve perto de você que certamente está no céu, no seu
devido lugar.
Te amo Vô. Saudade Zé.
*crônica escrita em meio um emaranhado de lágrimas - quanta saudade meu Deus
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