segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nada me dói mais do que novembro - parte I


"O problema da saudade é que ela não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro". 

O relógio já marcava 6h20 da manhã quando o celular tocou ao meu lado na cama. Logo pensei que estivesse programado o despertador errado e tudo não se passava de um engano, entretanto, o identificador de chamadas informava que a ligação vinha de Pereira Barreto. Com um olho aberto e outro não, resolvi atender. Era meu tio Levi que com calma me trouxera a notícia que eu não esperava. “Bom dia Felipe, paz do Senhor, levanta aí e vem pra cá, o vô foi descansar no Senhor”. Pulei da cama, perguntei algumas vezes até que a ficha caísse. Não conseguia acreditar que perdera aquele que era meu referencial.

Sentei-me na cama, abaixei a cabeça e comecei chorar. Esse tipo de notícia deve ser digerida aos poucos, com calma, para que o nó na garganta não sufoque o coração. Por minutos fiquei cabisbaixo chorando e tentando entender aquilo tudo. Tomei forças e avisei meus pais e irmãos.

Voltei para meu quarto e sem saber mais o que era lágrima ou gemido, enfiei meu rosto no travesseiro. Queria poder fazer alguma coisa, queria tentar algo que revertesse, mas não conseguia fazer nada além de chorar.

Meu pai, o filho mais novo, o filho da velhice precisava mais das minhas forças do que eu da dele. Fui até ele e o abracei por minutos. O silêncio só era rompido pelo som das lágrimas que caiam e molhavam nossos ombros.

Me preparei para a ida ao funeral, eram 60 quilômetros. Um caminho que eu já conhecia de cor, desde minha tenra idade me dirigia à casa do meu avô de semana em semana, mas a espera dessa vez era diferente, era mais escura, vazia e bem mais fria.

No caminho a trilha sonora dos meus encontros com meu avô tentava me confortar. “Deus, onde estás? Te procuro, te procuraria na porta desta rua. Deus, onde estás? Olha o que eu vejo agora: o menino dançou sem roupa, o menino botou na boca um doce com gosto de fel. Deus, onde estás? A igreja arrancou o sino, o homem esqueceu o menino, fez castelo de outro e prata e perdeu a vida. Ah, acende toda luz iluminando a Terra que convive com a dor, sem esperança. Vai onde há a dor e cura! Vai onde não há amor e ama! Vai onde há a dor e alegra! Vai onde não há amor e transforma! Teu toque forte muda toda a sorte de quem te encontra”.

Inúmeras lembranças, vontade de rebobinar a história para dar nele meu apertado abraço.

Chegando até lá meu coração apertado quase saltou pela boca. Minha avó estava rodeada de filhos, netos e bisnetos, todos ali. Todos reunidos outra vez, mas o dono da casa não estava. Eu esperava que ele aparecesse e que colocasse fim a toda aquela angústia, colocasse fim a todo aquele emaranhado de lágrimas.

A notícia de que poderíamos nos despedir dele chegou e como um louco parti em direção aonde estava seu frágil corpo que foi vencido do pelas dores. Meu coração aflito, apertava a cada passo que eu dava em direção àquela fria sala.

Lá estava ele, deitado, com um terno escuro e com um semblante sereno. Estava mais jovem, estava mais bonito. Pouco lembrava aquele que sofreu em um leito de hospital durante meses. Estava com um sorriso estampado no rosto, seu rosto parecia com o de alguém que estava vendo algo lindo, algo de imensurável valor e beleza.

Segurei suas mãos e me acalmei. O Espírito de Deus enviou paz ao meu coração. Algo que me fizera limpar as lágrimas dos olhos e que me fez entender que o meu avô soube combater o bom combate e ao final de toda a carreira, guardar a fé.

Aprendi que para ele a morte era só o início de uma nova vida, agora, ao lado de Cristo.



Continua...


 

Um comentário:

  1. Putz só hj parei pra ler esse texto, esse que me fez chorar e lembrar o tamanho da fé dessa pessoa ,que com orgulho posso dizer: Meu pai!💙😍

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