"O problema da saudade é que ela não esquece dos
detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13
de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro".
A música.
Dizem por aí que a música tem o poder de descrever momentos
e sentimentos, é um dito que eu não nego a veracidade. Pela inspiração do
compositor muitas e muitas vidas passam a viver conexas ao verso, ponte e
refrão.
A música sempre pautou meu relacionamento com meu avô. Quando menino gostava de ouvi-lo assoviar canções do
hinário, ou cantarolar os sucessos de Oséias de Paula, Álvaro Tito, Cícero
Nogueira e Luiz de Carvalho. Depois do jantar, nosso costume era colocar a
cadeira na direção da ponte, levantar os pés e apoiá-los na mureta e então
cantar, ou melhor, tentar cantar os clássicos do Cantor Cristão e da Harpa
Cristã.
Era incrível quando isso acontecia. A casa que, sempre
ficava lotada, se enchia de esplendor quando começávamos cantar. Era algo
contagiante a ponto de que quem estava ocupado lavando a louça do jantar parava
o que estava fazendo e vinha colocar uma terceira voz ao até então, nosso
dueto.
“Divino companheiro no caminho, sua presença sinto logo ao
transitar. Já dissipaste toda sombra, já tenho luz, a luz bendita do amor. Fica
Senhor! Já se faz tarde, tens meu coração para pousar, faz em mim morada
permanente, fica Senhor, fica Senhor! Meu salvador!”
Quantas e quantas noites não repetimos esse costume,
acompanhados de uma garrafa de café. Bons tempos que enchem meu coração de felicidade e meu rosto
sinaliza com um sorriso. “Ah, que saudade”.
Nos meses em que meu avô esteve no hospital, meses que
antecederam o dia 13 de novembro, eu o acompanhei em diversas oportunidades. Ele
sempre alternava um gemido com um Glória a Deus e um Aleluia. Essas frases
nunca deixaram seu vocabulário, ainda que em meio a dor, sempre, sempre, sempre
ouvia-o dizer: “Jesus é maravilhoso, glórias a Deus, Aleluia Senhor”. A voz
cansada, fraca e opaca nunca deixou de glorificar aquele que sempre foi o seu Senhor.
Nesses turnos em que o acompanhei no hospital, ele sempre
pedia para que eu cantasse algumas daquelas canções. Os pacientes do quarto não entendiam
como ele conseguia cantar Ao chegar bem
mais perto de Deus de forma tão doce, mesmo não suportando tanta dor. Para eles, algo sobrenatural
acontecia no quarto. Já para o meu avô, segundo ele mesmo relatou aos outros
familiares, todas as vezes que um louvor era cantado ali, naquele leito, ele
não sentia dor, pois um anjo vinha visitá-lo.
"Senhor Jesus, se o Senhor voltar nesta noite, tenha de misericórdia dos Santos ao redor da Terra", José Maria Costa.
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