terça-feira, 11 de novembro de 2014

Nada me dói mais do que novembro - parte II

"O problema da saudade é que ela não esquece dos detalhes e eu, eu ainda me lembro de cada minuto daquela quarta-feira, dia 13 de novembro de 2013. Nada, nada, nada me dói mais do que novembro".

A música.

Dizem por aí que a música tem o poder de descrever momentos e sentimentos, é um dito que eu não nego a veracidade. Pela inspiração do compositor muitas e muitas vidas passam a viver conexas ao verso, ponte e refrão.

A música sempre pautou meu relacionamento com meu avô. Quando menino gostava de ouvi-lo assoviar canções do hinário, ou cantarolar os sucessos de Oséias de Paula, Álvaro Tito, Cícero Nogueira e Luiz de Carvalho. Depois do jantar, nosso costume era colocar a cadeira na direção da ponte, levantar os pés e apoiá-los na mureta e então cantar, ou melhor, tentar cantar os clássicos do Cantor Cristão e da Harpa Cristã.

Era incrível quando isso acontecia. A casa que, sempre ficava lotada, se enchia de esplendor quando começávamos cantar. Era algo contagiante a ponto de que quem estava ocupado lavando a louça do jantar parava o que estava fazendo e vinha colocar uma terceira voz ao até então, nosso dueto.

“Divino companheiro no caminho, sua presença sinto logo ao transitar. Já dissipaste toda sombra, já tenho luz, a luz bendita do amor. Fica Senhor! Já se faz tarde, tens meu coração para pousar, faz em mim morada permanente, fica Senhor, fica Senhor! Meu salvador!”

Quantas e quantas noites não repetimos esse costume, acompanhados de uma garrafa de café. Bons tempos que enchem meu coração de felicidade e meu rosto sinaliza com um sorriso. “Ah, que saudade”.

Nos meses em que meu avô esteve no hospital, meses que antecederam o dia 13 de novembro, eu o acompanhei em diversas oportunidades. Ele sempre alternava um gemido com um Glória a Deus e um Aleluia. Essas frases nunca deixaram seu vocabulário, ainda que em meio a dor, sempre, sempre, sempre ouvia-o dizer: “Jesus é maravilhoso, glórias a Deus, Aleluia Senhor”. A voz cansada, fraca e opaca nunca deixou de glorificar aquele que sempre foi o seu Senhor.

Nesses turnos em que o acompanhei no hospital, ele sempre pedia para que eu cantasse algumas daquelas canções. Os pacientes do quarto não entendiam como ele conseguia cantar Ao chegar bem mais perto de Deus de forma tão doce, mesmo não suportando tanta dor. Para eles, algo sobrenatural acontecia no quarto. Já para o meu avô, segundo ele mesmo relatou aos outros familiares, todas as vezes que um louvor era cantado ali, naquele leito, ele não sentia dor, pois um anjo vinha visitá-lo.




"Senhor Jesus, se o Senhor voltar nesta noite, tenha de misericórdia dos Santos ao redor da Terra", José Maria Costa. 


Continua...



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